terça-feira, 23 de outubro de 2007

Trecho de "Na noite enxovalhada", Antonio Candido

“Uma das coisas mais importantes da ficção literária é a possibilidade de ‘dar voz’, de mostrar em pé de igualdade os indivíduos de todas as classes e grupos, permitindo aos excluídos exprimirem o teor da sua humanidade, que de outro modo não poderia ser verificada. Isso é possível quando o escritor, como João Antônio, sabe esposar a intimidade, a essência daqueles que a sociedade marginaliza, pois ele faz com que existam, acima da sua triste realidade. Nos contos deste livro, mas sobretudo nos finais, ele é um verdadeiro descobridor, ao desvendar o drama dos deserdados que fervilham no submundo; dos que vivem das lambujens da vida e ele traz com a força da sua arte ao nível da nossa consciência, isto é, a consciência dos que estão do lado favorável, o lado dos que excluem. Sob este aspecto, João Antônio faz para as esferas malditas da sociedade urbana o que Guimarães Rosa fez para o mundo do sertão, isto é, elabora uma linguagem que parece brotar espontaneamente do meio em que é usada, mas na verdade se torna língua geral dos homens, por ser fruto de um estilização eficiente.” ‘(Antonio Candido, “Na noite enxovalhada”).

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

CRONOGRAMA ATUALIZADO

18/10 - JOÃO ANTONIO – “Paulinho perna torta”

23/10 - JOÃO ANTONIO – “Paulinho perna torta”
DALTON TREVISAN - “A noite da paixão”

25/10 - DALTON TREVISAN - “Capitu sou eu”

30/10 – RUBEM FONSECA - “Passeio noturno I”, “Passeio noturno II”

01/11 - RUBEM FONSECA – “Gazela”

06/11 – SÉRGIO SANT’ANNA - “O monstro”

08/11 - SÉRGIO SANT’ANNA – idem
Contraponto: NELSON RODRIGUES, “O monstro"

13/11 – RADUAN NASSAR, “Menina a Caminho”

15/11 – feriado

20/11 – feriado

22/11– RADUAN NASSAR – Lavoura Arcaica

24/11 (sábado) –Atividade – Exibição do filme Lavoura Arcaica

27/11 – MURILO RUBIÃO – “O pirotécnico Zacarias”

29/11 – JOSÉ J. VEIGA – “A usina atrás do morro”, “Os cavalinhos de Platiplanto”

04/12 – MODESTO CARONE - “Resumo de Ana”

06/12 – MODESTO CARONE – idem

08/12 (sábado) – 10h - Conversa com o crítico Manuel Costa Pinto

11/12 – BERNARDO CARVALHO – “Aberração”

13/12 – CINTIA MOSCOVICH – “O telhado e o violonista”

15/12 (sábado) – 10h - Conversa com o escritor Bernardo Carvalho

18/12 – ANDRÉ SANT’ANNA – Sexo

20/12 – JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA – “Caçador de vidro” (1994)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

SOBRE GUIMARÃES ROSA E CLARICE LISPECTOR

“O jogo da linguagem [...] segue precisamente, em Clarice Lispector, uma direção oposta ao de Guimarães Rosa. Guimarães Rosa, ao contrário de Clarice Lispector, apresenta um estilo de acréscimo: palavras novas, riqueza semântica, exploração dos veios arcaicos da língua, invenção de modalidades sintáticas etc. Assim o exigem a diversidade humana, a pletora do mundo, a generosidade da Natureza, a exaltação da realidade sensível no romancista de Grande Sertão: Veredas. Místico também, como Clarice Lispector, Guimarães Rosa alcança a transcendência através da afirmação do mundo, com todas as suas pompas, com todas as suas contradições, religiosas, metafísicas e éticas. A realidade, no contexto da obra de Guimarães Rosa, é um vir-a-ser contínuo, e Deus, o manso impulso que, passando pelo homem, no homem se renova.
Em Clarice Lispector, a transcendência assemelha-se mais a uma trans-descendência. É uma espécie de mergulho nas potências obscuras da vida, através da negação do mundo, das relações humanas, da ética. Na sua visão da realidade, o Ser e o Nada se identificam. A mensagem de G.H., no fim de seu calvário, compreendendo que a existência em si é não-humana, e que toda linguagem tem no silêncio a sua origem e o seu fim, é, no que diz respeito à caracterização do mundo imaginário de Lispector, verdadeiramente exemplar.
Clarice Lispector expôs-se, no seu A Paixão Segundo G.H., ao risco de optar pelo silêncio. Lançou um desafio supremo a si mesma: jogou com a linguagem para captar o mundo pré-lingüístico. E teve que admitir, no final, o fracasso de seu empreendimento. Mas foi um fracasso significativo, que acarretou para a autora a mais surpreendente vitória. Essa vitória, registrada nas últimas páginas do relato de G.H., traduz o reconhecimento da miséria e do esplendor da linguagem, de sua falência e de sua essencialidade. “A realidade é a matéria-prima, a linguagem é o modo como vou buscá-la – e como não acho. Mas é do buscar e não achar que nasce o que eu não conhecia, e que instantaneamente reconheço. A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas volto com o indizível. O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção, é que obtenho o que ela não conseguiu.” (A Paixão Segundo G.H., p. 178)” [NUNES, Benedito. O dorso do tigre. São Paulo: Perspectiva, 1969, pp. 138-9]

“Quem no Brasil poderia ser melhor aproximado dela [Clarice Lispector] é Guimarães Rosa, também receptáculo de epifanias, como confessa nos quatro prefácios de Tutaméia. No entanto, diferindo de Clarice, apesar do largo espaço que cede ao tema do mistério e do inexplicável, executa um trabalho de linguagem na linguagem, levando a pesquisa vocabular e estilística a extremos pouco vistos dentro e fora de nossa literatura, enquanto Clarice [...] insiste na ‘naturalidade’ de sua escritura.” (SANT’ANNA, Affonso Romano de. “Laços de família e Legião estrangeira”. In: _____ Análise estrutural de romances brasileiros. 4ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 186.)

“[...] Clarice mostrava que a realidade social ou pessoal (que fornece o tema), e o instrumento verbal (que institui a linguagem) se justificam antes de mais nada pelo fato de produzirem uma realidade própria, com a sua inteligibilidade específica. Não se trata mais de ver o texto como algo que se esgota ao conduzir a este ou aquele aspecto do mundo ou do ser; mas de lhe pedir que crie para nós o mundo, ou um mundo que existe e atua na medida em que é discurso literário. Este fato é requisito em qualquer obra, obviamente; mas se o autor assume maior consciência dele, mudam as maneiras de escrever”.
(CANDIDO, Antonio. “A nova narrativa”. In: ________, A educação pela noite & outros ensaios. 3ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2000. p. 206.)

terça-feira, 2 de outubro de 2007

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR SOBRE CLARICE LISPECTOR

Estão listadas abaixo algumas publicações relativamente recentes sobre Clarice Lispector.
O livro de Berta Waldman (A paixão segundo C.L.) e o conjunto de ensaios publicado na série "Cadernos de Literatura Brasileira" do Instituto Moreira Salles oferecem uma boa introdução ao universo da escritora e às abordagens críticas sobre sua obra.

ARÊAS, Vilma. Clarice Lispector com a ponta dos dedos. São Paulo: Companhias das
Letras, 2005.

Cadernos de Literatura Brasileira – Clarice Lispector. São Paulo: Instituto Moreira
Salles, 2004. [Trata-se de obra geral sobre a escritora, contendo Iconografia,
Cronologia e Bibliografia bastante completa com obras da escritora e estudos
críticos sobre ela. O volume reúne vários ensaios, sobre vários aspectos da obra;
dentro eles destaco “Bestiário”, de Silviano Santiago; “Bichos e flores da
adversidade”, de Vilma Áreas; “No território das pulsões”, de Yudith
Rosenbaum; e “A narração desarvorada”, de Benedito Nunes.

Remate de Males, Revista do Departamento de Teoria Literária da Unicamp, n. 9.
Campinas: Instituto de Estudos da Linguagem, 1989. [Número sobre Clarice
Lispector, organizado por Vilma Arêas e Berta Waldman, com vários ensaios
sobre a escritora.]

SANT’ANA, Affonso Romano de. “Laços de família e Legião estrangeira”. In: _____
Análise estrutural de romances brasileiros. 4ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1977,
pp. 180-212.

WALDMAN, Berta. Clarice Lispector: a paixão segundo C.L. 2ª ed. rev. e ampl.
São Paulo: Escuta, 1992. [Livro introdutório, com um bom apanhado sobre a
vida e a obra da escritora, destacando temas e procedimentos narrativos
recorrentes.]

“A retórica do silêncio em Clarice Lispector”. In: _______ Entre passos e
rastros – presença judaica na literatura brasileira contemporânea.
São Paulo:
Perspectiva, 2002. [Ensaio que aborda a questão da ausência, do irrepresentável
e do silêncio na obra da escritora, propondo conexões entre essas marcas da
escrita e o judaísmo.]

ENTREVISTA COM CLARICE LISPECTOR

Eis os links para a entrevista concedida pela escritora à TV Cultura em 1977.
Cada parte tem em torno de 9 minutos.

1ª parte (entrevista)
http://www.youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok

2ª parte (entrevista, com depoimento de Nádia Battella Gotlib)
http://www.youtube.com/watch?v=TvLrJMGlnF4&mode=related&search=

3ª parte (depoimentos de Nádia Battella Gotlib, Olga Borelli e leituras de Maria Bethânia)
http://www.youtube.com/watch?v=ZVwj3pHAi_s&mode=related&search=

4ª parte (sobre “A hora da estrela”)
http://www.youtube.com/watch?v=ptCJzf20rbY&mode=related&search=

5ª parte (parte final da entrevista)
http://www.youtube.com/watch?v=TbZriv5THpA&mode=related&search=